30.11.07

Mimos

Republico este texto sem autorização do autor. Porque sim, porque toda a gente gosta de mimo. Foi originalmente lançado aqui a 13 de Novembro. Um forte abraço ao Luís Garcia.

Ronda dos Quatro Caminhos - Sulitânia
1º Andamento
Em Terra de Abrigo esta gente derrubou estigmas, desafiou convenções e demonstrou que a música não se sujeita a rótulos. À Beira do Sul ficou claro que num espaço e num tempo acontecem encontros, estabelecem-se relações, entabulam-se diálogos, sempre numa salutar conflitualidade. É esta conflitualidade que distingue estes dois trabalhos da Ronda. O caminho não foi o da fusão homogeneizante da World Music, bem pelo contrário, nenhum dos participantes perdeu identidade. Todos ganharam neste confronto existencial e todos partiram para retomarem os seus caminhos. Depois do concerto que acabou à meia-noite e do (des)concerto que se prolongou pela madrugada(para alguns) fomos almoçar ao Vimieiro, à Casa de Comes e Bebes do Manel Escada. Aquilo não é bem uma casa de comes e bebes é mais uma galeria de arte. Não há nada que se coma ou que se beba naquela casa que não tenha a marca da imensa criatividade da Maria José e do Manel. Ela é mestra na arte dos sabores ele é um artista nas relações que estabelece com os incautos clientes que rapidamente deixam de o ser e passam a amigos. Não consegui encontrar nada que não fosse sublime, desde as entradas às fantásticas laranjas com azeite e mel tudo tem a marca de um imenso saber e de uma inquietação criativa que marca o objecto artístico. Aqui o objecto artístico come-se, ou seja excede-se na sua função suprema de comunicar com o público e a emoção do olhar sente-se no paladar daquilo que, por exemplo, a minha filha chamou a melhor refeição que comeu desde sempre. A escolha dos fluidos que pontuam esta experiência esotérica é também prova de um saber que o Manel revela num sorriso solidário ao explicar a origem do Mouchão tinto ou a diferença de graduação entre a aguardente velha de Mouchão e o néctar de Deuses que dá pelo nome de Licoroso de Borba. Enfim a experiência começou à uma e meia e acabou perto das seis da tarde. Foi mais um fim de semana marcado pelo imensidão de emoções vividas com música, com cante, com gente, com sabores e saberes que cruzam este universo de cumplicidades que partilhamos desde outros tempos.

2º Andamento

Ao fim de 4 eventos, marcados pela música, na Arena de Évora aconteceu um fenómeno estranho: Sulitânia, e aquele espaço, que antes não deixou de ser uma Praça de Touros maquilhada de sala de espectáculos, transformou-se numa catedral. A música, as vozes e os silêncios fundiram-se com os aplausos emocionados. Sulitânia é música no feminino (como o próprio conceito linguístico) e assim não é de estranhar que sulitânia marque para todo o sempre a passagem por aquele local das mulheres mais belas do Mundo, as Adufeiras de Monsanto
e, claro, todas as outras do Eborae Música, dos Cantares de Évora e do Opus Quatro. Este universo de uma sensibilidade e de uma criatividade arrepiante só podia resultar do confronto dialéctico com uma masculinidade que o atravessa sem pretensões hegemónicas mas também sem nenhum tipo de subserviência. Sulitânia é também uma Terra de Abrigo,
mas é mais, é um caminho para outros espaços, é a via para a redensificação cultural de territórios votados à desertificação. Quando sentimos a dor aguda e profunda de não percebermos o que andamos a fazer num mundo de mediocridade homogeneizante basta regressar a estas sonoridades e imediatamente se entende que valeu a pena, vale sempre a pena! O Caminho é mesmo por aí!

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Agradeço, emocionado, este texto do Luís, que ainda por cima está muito bem escrito. O estilo que lhe está faltando na roupa, em virtude dos 90 quilogramas bem medidos, sobra-lhe na prosa. Aproveito para informar que a maquineta de encher pneus, que o Luís Garcia comprou na loja chinesa em Mértola (????), fez agora um ano, serviu muito bem há uns dias atrás. Lamentavelmente, uma segunda utilização há dois dias marcou-lhe o funeral com muito fumo à mistura. Pergunta: se tem dois anos de garantia, quem é que me deve os sete euritos ?

sábado, dezembro 01, 2007 2:04:00 da tarde  

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