Évora de novo
Teatro Garcia de Resende, Évora, 24 de Novembro de 2000
Seis anos depois, regressamos a casa. Ou pelo menos a um lugar de memórias e afectos a que nos habituámos a chamar casa. A Ronda sobe amanhã à noite ao palco do Teatro Garcia de Resende, em Évora, para concluir o ciclo de espectáculos do projecto a que chamaram À Beira do Sul. Começou em Mértola, passou por Idanha a Nova e vem desaguar aqui. Pelo caminho, fica um mês glorioso de acontecimentos que deixou este diário de bordo ao abandono. A actualização, fica a promessa, far-se-á no regresso de domingo. O disco virá depois.
Em palco, amanhã, para além destes seis garbosos moços, estarão o companheiro Vasco Pearce de Azevedo, o quarteto Opus 4, o Coral Guadiana de Mértola, as Adufeiras de Monsanto, o coro Eborae Musicae, os Cantares de Évora e mais uma pequena embaixada do Ateneu Mourense. Contas feitas, sem rigor nem verificação, uma multidão de noventa almas, algum talento e muita boa vontade.
bosted by Oliveira at 10:14
6 Comments:
É com alívio que vejo este blog a antecipar o que vem e não a reportar o que foi. Uff!!..e meia culpa.
Como se diz pelas lides teatrais: MUITA MERDA...
Reconheço que não é a melhor maneira de vos saudar, mas desejo-vos um bom espectáculo (principalmente porque raptaram um designer gráfico que este fim de semana estaria na celebração dos 16 anos estapafúrdios).
Honestamente, desejo-vos muita força e felicito-vos pelo trabalho que fazem com a música tradicional portuguesa.
Zorbas (amigo felino do vosso Pedro V, Pantagruel para alguns companheiros vinículas).
em véspera de partida para terras de bons comeres, costumes e gentes, é de salientar as saudades que as poucas vezes que lá estive deixaram. Há-de ser de salientar a minha passagem. Para memória futura. Ou infortúnia. Pois desta vez, o apoio a palco será de gabarito real! Com muito desejo que tudo corra pelo melhor, espero ser quem menos trabalho venha a ter.
Será bom sinal com certeza.
Ah! Antes que me esqueça, aos mais cépticos e a todos os que lerem posteriormente ao espectáculo, sim, levo na malinha de "roadie" uma caixita de fósforos e alcool.
Não será só apoiar a nivel instrumental. É preciso confirmar que a pirotécnia não vai falhar e que mais uma vez o fogo celestial se erguerá em palco em valentes e apoteóticas labaredas celestiais!
:)
Caríssimos Amigos:
As nossas melhores saudações.
Já estamos na nossa Aldeia Mais Portuguesa.
As Adufeiras de Monsanto sentem-se muito honradas por terem participado no memorável espectáculo "À Beira do Sul", em terras de Idanha e de Évora, sob a sábia direcção do grande músico António Prata. Conviver com todos os músicos da Ronda dos Quatro Caminhos e dos demais grupos foi um raro privilégio que jamais esqueceremos. Queira Deus que outras oportunidades de convosco colaborar possam acontecer. Obrigado pelo companheirismo, e, sobretudo, pelo muito que nos ensinaram e ajudaram. Julgamos que muito ficámos a ganhar com o vosso profissionalismo. Bem hajam, também, pela vossa simpatia e generosidade para com o nosso modesto grupo, tão bem expresso na vossa página da Internet, que visitámos com muito gosto. Somos ricos tão somente em boa vontade e forte desejo de preservar e divulgar a nossa cultura popular e tradicional, cientes das nossas muitas e muitas dificuldades, que são próprias de gentes simples do povo de Monsanto, que teimam em viver no interior deste interior profundo.
Sobre o memorável concerto do dia 11, no emblemático Teatro Garcia de Resende, na cidade de Évora, o Rádio Clube de Monsanto, dá o merecido destaque na sua página principal em www.radio-monsanto.com
Se tiverem um tempinho agradecíamos que a visitassem.
Ficamos à espera das vossas notícias. Um abraço para todos, com muita saúde e sucessos musicais.
Atentamente e grato.
Pelas Adufeiras de Monsanto
Joaquim Fonseca
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- O Som Popular ao Serviço do Regionalismo -
Em Terra de Abrigo esta gente derrubou estigmas, desafiou convenções e demonstrou que a música não se sujeita a rótulos. À Beira do Sul ficou claro que num espaço e num tempo acontecem encontros, establecem-se relações, entabulam-se diálogos, sempre numa salutar conflitualidade. É esta conflitualidade que distingue estes dois trabalhos da Ronda. O caminho não foi o da fusão homogeneizante da World Music, bem pelo contrário, nenhum dos participantes perdeu identidade. Todos ganharam neste confronto existencial e todos partiram para retomarem os seus caminhos.
Depois do concerto que acabou à meia-noite e do (des)concerto que se prolongou pela madrugada(para alguns) fomos almoçar ao Vimieiro, à Casa de Comes e Bebes do Manel Escada. Aquilo não é bem uma casa de comes e bebes é mais uma galeria de arte. Não há nada que se coma ou que se beba naquela casa que não tenha a marca da imensa criatividade da Maria José e do Manel. Ela é mestra na arte dos sabores ele é um artista nas relações que establece com os incautos clientes que rápidamente deixam de o ser e passam a amigos. Não consegui encontrar nada que não fosse sublime, desde as entradas às fantásticas laranjas com azeite e mel tudo tem a marca de um imenso saber e de uma inquietação criativa que marca o objecto artístico. Aqui o objecto artístico come-se, ou seja excede-se na sua função suprema de comunicar com o público e a emoção do olhar sente-se no paladar daquilo que, por exemplo, a minha filha chamou a melhor refeição que comeu desde sempre. A escolha dos fluidos que pontuam esta experiência esotérica é também prova de um saber que o Manel revela num sorriso solidário ao explicar a origem do Mouchão tinto ou a diferença de graduação entre a aguardente velha de Mouchão e o nectar de Deuses que dá pelo nome de Licoroso de Borba.
Enfim a experiência começou à uma e meia e acabou perto das seis da tarde.
Foi mais um fim de semana marcado pelo imensidão de emoções vividas com música, com cante, com gente, com sabores e saberes que cruzam este universo de cumplicidades que partilhamos desde outros tempos
Luis Garcia
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