18.7.06

Mês do blog - dia 18 - Cantar



Uma das constâncias da minha vida foi o acto de cantar em grupo, informalmente, sem fins lucrativos, por prazer... Posso dizer que alguns dos meus momentos mágicos, musicalmente falando, aconteceram assim, quando, inesperadamente, a conjugação foi perfeita e as linhas melódicas puras e afinadas.
Hoje verifico que tive muita sorte. No Jardim-escola João de Deus, em Tomar, tive canto coral com os meus 60 colegas, simultaneamente, e ainda hoje me recordo o que aquilo era bom. No Simca "Aronde" do meu pai, a família, armada em Trapp, cantava com um gozo inexcedível, a caminho da praia da Nazaré. Nos escuteiros cantava-se bem, canções nostálgicas, hinos com cheiro a nacionalismo ou canções alegres e humorísticas. Em Tomar cantava-se nos copos, foleiradas ou coisas dos Beatles. Mais tarde o coro Canto Firme, do meu amigo Tóino Sousa deixava-me cantar com eles em situações de convívio, Em Almada tive um grupo de amigos que cantava coisas francesas do Boris Vian, canções revolucionárias do Lopes Graça ou coisas do Zeca Afonso, do Adriano ou do Cília e depois do Sérgio e do Zé Mário. Até da Catalunha guardo recordações inesquecíveis de cantar "habaneras" e "cançós" catalanas e de um Adeste Fideles a 40 vozes improvisadas diferentes, cantado às tantas da matina, que até comoveu a areia da praia.
Qualquer coisa mudou. Hoje não se canta na escola, as pessoas ganharam vergonha de cantar e quando se acha que o convívio devia ter cantiga ficam a olhar para mim porque devem achar que eu devia cantar alguma coisa. Mas eu não aprendi a cantar sózinho. Nem quero.