20.7.06

Contas feitas

A alergia dos portugueses às facturas é endémica, contagiosa e potencialmente perigosa para quem a ouse enfrentar sem mais que uma pequena dose de bom senso. Pelos caminhos deste Portugal em Estio, torna-se evidente que o diabo do papel não se dá bem com o sol. Custa a sair, muitas vezes sai torto e quase sempre arrastando sintomas identificáveis sem olho clínico, como nariz torcido, sopros de mau estar enfado e uma ligeira pigmentação rubra das faces quando é pedido de forma insistente e assertiva. Quando se trata de justificações para Finanças, a variedade de respostas patológicas é impressionante. Há o senhor dos jornais em Campo Maior, que não pode passar factura “sem o patrão cá estar”; há o outro de Rio de Moinhos que garante, sem se rir, que “é de lei: facturas só a partir de dez euros”; ou o outro ainda, em Moura, que garante que o recibo vale pela factura. Olhe que não é o mesmo. “Sim, não é bem. Mas é como se fosse.”