8.2.06

Sabores


E agora vamos para qualquer coisa completamente diferente. Mais uma vez tomo a opção de elevar o, já de si, alto nível deste maravilhoso blog.
Faço-o integrado no Departamento Epicuro da Ronda, secção "gourmet", sub-departamento de provas, dando-vos notícia de alguns produtos avaliados por um painel de "gourmand" constituído apenas pela minha pessoa. Sou eu portanto, e por hoje, o paineleiro de serviço.
Foram experimentados quatro produtos, em refeição leve, acompanhados os três primeiros com vinho robusto da região de Pias e pão de mistura trigo- centeio cortado em fatias de média grossura e o quarto com bolacha de água e sal da "Carr's" versão "grande perímetro".
1)- Salpicão da zona de Montalegre. Certificado como sendo de fumeiro, de cor salmão vivo (é a cor que é viva e não o salmão), seco, pouca gordura e aroma intenso de fumos caseiros onde se distingue a lenha de oliveira e matos vários. Preço de 30€ o Kg. Adquirido na Feira do Fumeiro e do Presunto do Barroso.
Uma só palavra para o definir: Soberbo e inesquecível. Para manter a promessa de uma só palavra: Inesqueberbo (ou socível). O bom trato que dá às papilas gustativas fazem criar uma aguadilha debaixo da língua que pode prejudicar a degustação mas, com perfumes assim, são riscos que se correm com prazer. Se num primeiro momento pareceu algo mínguo de saladura uma segunda aferição logo tratou de desmentir tal desiderato. Consumir em fatias finas e não pensar muito no preço que, apesar de justo, não permite grandes repetições.
2)- Alheira da zona de Chaves. Feita pela mãe do meu amigo Ventura em ambiente caseiro e oferecida pelo dito, não estando portanto disponíveis comercialmente. Cor de abóbora e de menor dimensão do que aquelas que se compram por aí. Cozinhadas na chapa em lume brando e demoradamente, compareceram à mesa torradinhas e fumegantes. Paladar e tempêro perfeitos e, apesar da matéria gorda que é apanágio desta espécie alimentar, de digestão sossegada e discreta.
3)- Cabeça de Xara da zona de Azeitão. Cabeça do bicho (que é o porco) de origem não indicada escolhendo-se a naturalidade da obra pelo local de confecção. Cor cinzento cabeça-de-xara apresentando brancosidades espalhadas por toda a superfície. Foi esta iguaria construída por uma parceria de belas moças no fim do mês de Janeiro apresentando-se fresca e saborosa. Tem um desenho gustativo curioso e, talvez pelo cuidado natural das cozinheiras, tem alta qualidade dietética pois parece terem sido estripadas uma maioria de gorduras. Será que tal lhe prejudica o paladar? Não!!
4)- Doce de abóbora da casa de Azeitão donde é originário o produto anterior. Aparece em frascos de diversos tamanhos, etiquetados por ternurenta mão que lá escreveu "Mimos da ti Letícia". Fazendo parte de uma incrível colecção de produtos similares é, na opinião deste humilde escriba, o príncipe da linha. Está tudo lá: Aroma do cabaçal produto, equilíbrio na doçura, delicadeza na estrutura, etc, etc. etc. Pessoalmente gosto de lhe acrescentar nozes. Digo, com toda a sinceridade, que será, talvez, o melhor produto do género que provei na vida. Parabéns à Letícia.
E eis como eu comi "qualquer coisinha" para ver se não comia muito e... foi o que se viu!!

4 Comments:

Blogger Oliveira said...

Invejável manjar descrito com admirável mestria. Lá por casa também é frequente sentir esse "aroma intenso de fumos caseiros onde se distingue a lenha de oliveira".

quarta-feira, fevereiro 08, 2006 7:48:00 da tarde  
Blogger Marinho said...

Atenção ó Oliveira que ainda podes estar sujeito á pesada censura aplicada pelo Administra a Dor.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006 7:56:00 da tarde  
Blogger PAM said...

são 11 da manhã, tenho o estômago cheio do pequeno almoço que, depois do que li está longe de ser referido como refeição e mesmo assim, depois de ter lido isto tudo fiquei com uma vontade de comer, daquelas que é pura e simplesmente por prazer e não por fome... Vícios (no bom sentido da palavra) adquiridos na Ronda, ora pois...
É de louvar a forte tendência para optar pelos produtos de Azeitão... mas não é de estranhar, pois basta provar uma vez para se saber do que se fala.
Agora, como alguêm referiu anteriormente, "CBarata! Queremos mais!!"

quinta-feira, fevereiro 09, 2006 11:11:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

(...equilíbrio na doçura, delicadeza na estrutura...)fim de citação. Atónito que estou com a cada dia mais brilhante, afirmativo e substancial traço poético e literário do nosso companheiro Barata, no que à gastronomia diz respeito, venho dar os parabéns por tal finura, e avisar a navegação de Quitérios e Saramagos que de pena em punho, qual soberbo Tarzam, eis que se ergue para o mundo um novo principe da critica da artes da mesa. Estou emocionado.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006 11:24:00 da manhã  

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