Pedagogia do gosto.

E a matemática? Aí já não é bem assim. Os miúdos, às voltas com a escola, já ouviram em toda a parte, na família ou na televisão, do pai ou de um governante qualquer, desabafos exorcistas contra a matemática. Por vezes até se lhes pressente um certo orgulho nas declarações de "nunca percebi nada disso". Os putos ouvem, imitam e ganham autoridade para detestar.
Quanto à música, ninguém diz que não gosta de música. Pode não se gostar de muita música, ter um gosto normalizado ou minoritário mas, e acho mesmo que é verdade, toda a gente gosta de alguma música.
O que eu não compreendo mesmo é porque é que todos aqueles que andavam na escola e foram postos na última fila do canto coral, todos a quem o professor disse que eles eram os mais desafinados alunos de que tinham memória, todos os que foram aconselhados a não cantar para não estragarem aquilo tudo, todos esses, me vêm, em catadupas, dizer-me isso. Não dá para acreditar. Basta saberem que eu sou professor de música para virem, todos contentes e vangloriosos, espetar-me com as suas deficiências musicais. Garanto-vos que não dá para acreditar!!
Ando agora a fazer um curso que pretende juntar valências de música e de português. Só queria que vissem os de português cheios de medo: "Eu? Música?". Era o que faltava se eu, que não fui nenhum Aquilino quando andei na escola (ou será à escola?), dissesse que tinha medo de praticar português. Ora bolas!!
Vamos mas é respeitar as nossas fraquezas e lamentar a falta de sorte com alguns caminhos que fizemos. Todo o conhecimento científico ou artístico tem o seu valor e a miudagem tem que ter exemplos de respeito por isso.
E já agora, não digam nada a ninguém mas eu não gosto nada de "ballet". É pena!
5 Comments:
Não gostas de ballet? É pena que só um grupo restrito te tenha visto, restritas vezes, qual Baryshnikov em piruetas desenfreadas...
É verdade! Eu sou um dos poucos desafortunados que já presenciou tal. Se considerarmos como poucos o Grupo Cantares de Évora que teve a oportunidade de te ver vestido de plástico amarelo a dançar o passarinho!
Agora a sério. Estou completamente de acordo contigo. No entanto, confesso, eu que estou frequentando o mesmo curso que tu, por vezes tenho medo de praticar o português. Mas já tive mais.
Por favor companheiro Carlos abre-te connosco! Não estás sozinho!
Querida Marieta: eu abro-me com quase toda a gente.
Enviar um comentário
<< Home