26.1.06

Notícias da casa




Já devia ter feito isto há uma semana, mas enfim. Antes tarde que nunca. Aqui ficam, para memória futura, as palavras publicadas no ilustre Diário de Notícias (suplemento 6.ª) a propósito do último DVD da Ronda.


Terras de abrigo

A Ronda dos Quatro Caminhos concretiza, em palco, paixões musicais que nos são reveladas através de uma edição
especial feita de sons e imagens, de tradições e encontros. Carlos Barata revela alguns pormenores.

"Um ponto de viragem", diz--nos Carlos Barata, músico da Ronda dos Quatro Caminhos, lembrando Terra de Abrigo , álbum editado pelo grupo em 2003. A Ronda procurou com esse registo o cruzamento entre o cante alentejano, a composição clássica e outras sonoridades dispersas em volta do Mediterrâneo, da Andaluzia até Marrocos. "Independentemente do sucesso que o disco pudesse vir a ter ou não, sentíamos que estávamos a fazer algo que nos dava imenso prazer", revela o músico, "algo com uma honestidade a toda a prova e com uma qualidade que, pelo menos na Ronda, não era muito habitual. Foi um projecto completamente diferente para nós, com muitas horas de trabalho, de estudo e de investimento. Não só no aspecto musica, mas, e sobretudo, no que diz respeito aos afectos."
Prolongando a vida desta Terra de Abrigo , a Ronda dos Quatro Caminhos decidiu levar o álbum até ao Grande Auditório do CCB, apostando numa "odisseia" que juntou em palco mais de cem pessoas. "Decidimos fazê--lo pelo simples gozo", confessa Carlos Barata. "É verdade, além de músicos somos pessoas! Para lá desta actividade 'industrial' e 'comercial', estamos numa actividade dos sentidos. E o prazer que sentimos nisso é uma fatia importante de todo o processo. Hoje sabemos que tudo correu bem, mas podia não ter sido assim, e ficávamos com as dívidas todas em mãos. Mas esta é uma loucura saudável e, por vezes, irresistível."
Agora, numa terceira fase, a Ronda dos Quatro Caminhos revela gravações de Janeiro de 2004 numa edição especial com um DVD e um CD áudio. Em palco vemos a Ronda, a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, coros alentejanos e uma série de convidados que completam um quadro musical vasto, distante em teoria, mas na realidade familiar e complementar. Um concerto transformado em viagem. Melhor, um encontro de amigos: "É fácil imaginar as dificuldades que encontrámos. Juntar mais de cem pessoas num palco e organizar questões de logísticas complicadíssimas, com os meios que a Ronda tinha na altura. Foi realmente uma odisseia. Mas, e digo isto há anos em nome de todos os meus parceiros: conseguimos pôr pessoas completamente diferentes numa caminhada de afectos, as pessoas criaram amizades para toda a vida. Isso é fundamental. Mesmo que este projecto tivesse sido um fracasso, havia, pelo menos, essa grande riqueza."
Vemos a autonomia e as leis muito próprias de coros feitos por homens que não cantam sozinhos, secundados por cordas que, para lá de classicismos ou erudição, se revelam tão alentejanos como as vozes que se ouvem. Acolhemos Miguel Angel Cortez e Esperanza Fernandez, sentindo o mesmo pulsar ibérico feito de heranças de outras cores. Mas a Chula de Paus também marca o ritmo para a dança, Duas Igrejas leva-nos a cantar em mirandês, celebram-se as janeiras, dança-se o fandango e canta-se o fado com Katia Guerreiro. Ao Vivo no Grande Auditório do CCB parte de Terra de Abrigo para se revelar como um verdadeiro compêndio de música tradicional, comprometido com Portugal mas apaixonado por outras paragens - e que bem lhes fica este sentido nómada. Diz-nos Carlos Barata que "a Ronda habituou-se a desconfiar do resultado dos seus trabalhos, porque o mercado da música tradicional não é grande". Mas a Ronda dos Quatro Caminhos continua a ser símbolo de música tradicional, até para os que só conhecem o nome. Pode, com um registo completo como este, despertar a curiosidade de quem sabe o nome mas não conhece a obra.

DN / Tiago Pereira

2 Comments:

Blogger cbarata said...

Continuo a achar que não disse que tinhamos feito um trabalho com uma qualidade não muito habitual na Ronda. Posso ter referido qualidade como "género" ou "tipo" o que ficaria "um trabalho de um género não muito habitual na Ronda". Acho....!

quinta-feira, janeiro 26, 2006 8:02:00 da tarde  
Blogger Miguel Salema said...

Se o homem escreveu foi porque ouviu alguém dizer.....
Meu grande, estimado e verdadeiro amigo, o que sempre muito apreciei em ti foi a sinceridade. Entre tantas outras qualidades que tens essa é uma das que eu mais admiro. Não tenhas receio de dizer o que te vai na alma. Eu sei que tu sabes que o Patrãozinho sabe e que os outros todos da Ronda sabem que és assim.
(a ver se é desta que se começa a discutir...Eh..eh...eh....eh....)

sexta-feira, janeiro 27, 2006 1:55:00 da manhã  

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