19.1.06

Estreia mundial

Incumbe-me o companheiro Carlos Barata de aqui vos prestar conta da nossa deslocação de ontem à noite a Santarém para ouvir a estreia – mundial, como bem apregoava a organização do evento - da última obra do Eurico Carrapatoso. Não me é fácil. Desde logo, porque apesar de me ser perfeitamente familiar a circunstância de ter debitar à força qualquer ideia – mesmo que inconsequente - sobre toda a música que oiço, custa-me sempre mais ser original quando tenho de falar das coisas que me deslumbram, que de outras sobre as quais é fácil tecer reparos.

Depois porque apesar de ser portador de uma carteira profissional de jornalista, o que tecnicamente me habilita e autoriza a dizer todo o tipo de disparate, me vejo forçado a confessar que temo sequer tentar compreender a cabeça de onde sai uma obra de tal génio – sobretudo tratando-se de mioleira encerrada em cachaço de bicho ainda vivo e presente no local. Depois ainda, e não menos importante, porque a variedade de sensações que ontem me foi proporcionada em 49 minutos de música na Igreja da Graça se revelou demasiado extensa para que este modesto ouvido a conseguisse assimilar à primeira audição. Por último, porque a falta de ideias consistentes me obriga a este exercício de paráfrases e redundâncias que me consome demasiado tempo e imaginação – hão de reconhecer que não é fácil esticar todo este lençol dizendo praticamente nada.

Dito isto, que é francamente pouco, regresso ao essencial. Fomos ontem a Santarém – o companheiro Carlos Barata e eu – para assistir à estreia do Requiem que Eurico Carrapatoso compôs em memória de Passos Manuel (1805-1862), sob encomenda da Fundação Passos Canavarro, tutelada pelo trineto dessa eminente figura oitocentista. Foram intérpretes a Orquestra Nacional do Porto, conduzida pelo Maestro João Paulo Santos, e Coral Lisboa Cantat, dirigido pelo Maestro Jorge Alves, a que se juntou como solista o barítono Jorge Vaz de Carvalho. Da música, direi apenas que me sinto fascinado com a possibilidade de se conseguir compor com tal elaboração sem com isso provocar o divórcio do ouvido comum e mortal nem deixar de estar ao alcance de todas as inteligências.

Fui a Santarém porque o Barata choramingou a dizer que precisava de companhia e eu sou uma boa alma. Mas no fim quem tem de lhe agradecer sou eu. Para quem estiver interessado, o espectáculo repete hoje (21.00) no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém, e no sábado, pela mesma hora, na Casa da Música do Porto.

1 Comments:

Blogger cbarata said...

Ocupadíssimo em tarefas inadiáveis só agora abraço o Oliveira agradecendo-lhe o agradecimento.

sexta-feira, janeiro 20, 2006 2:38:00 da manhã  

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